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Polêmica 2010 – Os necrológios de Wilson Martins

Por Paula Augusto

No dia 30 de janeiro de 2010 o escritor e crítico literário Wilson Martins morreu aos 88 anos, gerando uma série de necrológios produzidos por alguns intelectuais brasileiros – o jornal Rascunho dedicou uma sessão em março de 2010 para que Rodrigo Gurgel, Miguel Sanches Neto, Alcir Pécora, André Seffrin, Luiz Antonio de Assis Brasil e Sérgio Rodrigues escrevessem sobre o crítico falecido. A polêmica começou quando a crítica literária Flora Süssekind, adepta dos estudos culturais, revoltou-se contra a aclamação dos críticos ao conservador Wilson Martins. A querela teve tanta repercussão que alguns alunos de Letras da USP montaram até um guia no twitter para coordená-la.

Wilson Martins era considerado e se considerava o último crítico formado na tradição francesa a exercer o que se convencionou chamar crítica de rodapé. Süssekind, contra essa tradição, em seu texto “A crítica como papel de bala”, considera que os necrológios publicados evidenciam “o apequenamento e a perda de conteúdo significativo da discussão crítica, assim como da dimensão social da literatura no país nas últimas décadas”, além de “um conservadorismo que é francamente hegemônico”. Segundo a crítica, os necrológios, “que figuram o colunista [Wilson Martins] como um injustiçado, como uma espécie de herói solitário na pontualidade de suas resenhas semanais”, sinalizam “uma redução do potencial de dissenso” e “a perda de lugar social da crítica”. Isso porque “formas dissentâneas de percepção, como a crítica, se mostram particularmente incômodas”, enquanto “formas personalistas e estabilizadoras, ao contrário, se esvaziadas, parecem continuar benvindas” – caso dos necrológios, para a autora. Süssekind critica, ainda, veementemente, a união entre o mercado editorial e o exercício crítico que funciona como guia de consumo e busca de prestígio.

Em um ponto do texto Süssekind afirma que, para que a crítica mantenha ainda um espaço relevante, talvez fosse necessário matar Wilson Martins mais uma vez e não louvá-lo como modelo a ser seguido. Já que, para ela, “sua transformação em imago exemplar parece expor inequívoca vontade de retorno a algo próximo à tradição das Belas Letras, a um regime estável e hierarquizado de vozes e gêneros, a regras fixas de apreciação e prática textual, a um apagamento de novos espaços de legibilidade, espaços ainda não demarcados ou nomeados, e sugeridos por formas de compreensão expansivas, e não exclusivas, do campo da literatura” (Texto na íntegra aqui).

Percebemos até aqui uma cisão de linhas teóricas. Delineia-se a dicotomia estudos culturais X estudos literários, que torna a aparecer na resposta de Sérgio Rodrigues a Flora Süssekind, em seu texto “A crítica de mal com a literatura”. Para Rodrigues, “a crítica universitária de fôlego que ela própria [Süssekind] representa, retirou-se do debate porque quis. (…) Süssekind, reconheça-se logo, está de mal com a literatura contemporânea”. E essa postura, segundo ele, advém da hegemonia dos estudos culturais, pois “tal predominância transformou em truísmo a ideia de que a literatura como a conhecemos é apenas um instrumento de dominação de classe”. O escritor coloca Wilson Martins como resistente, afinal “nunca desistiu do que há de propriamente literário na literatura” (Texto na íntegra aqui).

O texto de Süssekind gerou outras réplicas, além dessa, como a de Affonso Romano de Sant’anna, que em vez de discutir a obra de Martins ou a situação da crítica e da literatura, parte para ofensas pessoais e finaliza um de seus textos assim: “Wilson Martins morto é mais útil e fecundo do que Flora Sussekind viva”. Luis Dolhnikoff, em seu texto “Flora Süssekind avalia o decaído campo literário”, defende a crítica e afirma que Romano “mergulha diretamente no ridículo”. Para Dolhnikoff, Süssekind realiza um diagnóstico claro da situação atual da crítica e da literatura.

Nós, do Observatório da Crítica, selecionamos, até agora, 12 textos que consideramos mais significativos sobre essa polêmica. Acompanhe aqui o desenrolar desse embate e escolha seu lado. Agradecemos, desde já, futuras contribuições de vocês, leitores do blog.

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Publicado em 19 de fevereiro de 2011

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