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Este espaço virtual tem como objetivo acompanhar as discussões ocorridas no meio acadêmico e nas páginas dos jornais e revistas sobre o campo da crítica, em suas mais diversas manifestações: literárias, teatrais, cinematográficas, musicais, etc. A ideia é que ele funcione tanto como um site, no qual são arquivados entrevistas realizadas com críticos, resenhas, artigos e referências de livros de teor metacrítico, quanto como um blog, cuja finalidade é propiciar a interatividade entre professores, pesquisadores, estudantes, escritores e demais interessados no assunto. Se você se enquadra numa dessas categorias, sinta-se à vontade para postar seus comentários e enviar suas colaborações para a construção de nosso acervo de textos sobre a crítica.

Blog

Diálogos críticos

O Observatório da Crítica criou uma sessão onde são publicadas as entrevistas realizadas com críticos literários em atividade. A primeira delas teve como convidado o professor e músico José Miguel Wisnik, que esteve em Salvador para realizar uma aula-show na UFBA, em maio de 2009. A entrevista foi a terceira de uma série concedida por Wisnik no dia anterior ao evento, em meio ao burburinho de um café no bairro do Canela, em Salvador. O resultado, que vocês podem conferir ao lado, não deixa de evidenciar a ansiedade da entrevistadora, que tentava burlar o pânico decorrente da protestante rejeição ao ato de se transformar em imagem. Talvez por esse nervosismo de marinheiro de primeira viagem, ou quem sabe pelo fato de que os participantes habitam o mesmo espaço de ensino e de produção crítica, o que era para ser uma entrevista acabou se transformando em uma conversa entre pares. E, no momento, parece ter ficado claro que esta vai ser mesmo a tendência a ser seguida nos outros encontros promovidos pelo grupo de pesquisa. Daí o nome escolhido para a sessão: Diálogos críticos.

A segunda entrevista, que vocês também podem conferir ao lado, foi realizada com a professora Ana Cristina de Rezende Chiara, em dezembro de 2009. Dessa vez, escolheu-se um lugar mais tranquilo e a qualidade do som e das imagens melhorou bastante.

Pedimos desculpas pelos problemas de edição (coisa de gente de literatura, fazer o quê?) e prometemos nos esforçar para aprender rapidinho a dominar as técnicas de filmagem e montagem, de modo a evitarmos nas próximas experiências os cortes abruptos e a frustrada adesão à estética glauberiana de uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. Consideramos, no entanto, que tudo isso faz parte do processo e acreditamos que a qualidade dos comentários de nossos entrevistados compensa esses pequenos desacertos.

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18 de fevereiro de 2011


Nova edição de Fenomenologia da obra literária, de Maria Luiza Ramos

Por Rachel Lima

A Editora UFMG lança a 4ª. edição de um livro que, publicado pela primeira vez há mais de 30 anos, renovou o campo  dos estudos literários no Brasil, ao trazer para a análise literária as contribuições da fenomenologia de Roman Ingarden. Sua autora, Maria Luiza Ramos, foi a primeira professora responsável pela disciplina de Teoria da Literatura, na Faculdade de Letras da UFMG. A atual edição foi revista e apresenta mudanças no enfoque teórico, agora valendo-se também da obra de Martin Heidegger. O lançamento do livro faz parte das comemorações dos 70 anos do Curso de Letras da UFMG, a serem realizadas no dia 18 de março. Para a ocasião, foi organizada uma mesa-redonda que contará com a presença da autora, além da participação de Eneida Maria de Souza e Roberto Said, sob a coordenação de Reinaldo Marques. A programação completa do evento pode ser encontrada aqui.

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17 de março de 2011


A história da literatura brasileira reaberta

Por Rachel Lima

Alguns anos atrás, Paulo Franchetti, no texto “História literária: um gênero em crise”, afirmava: “a Sherazade que vem narrando há tantas décadas a história literária está perdendo seu poder de sedução”. O panorama traçado pelo crítico apontava o esgotamento do gênero, a partir do desgaste da ideia de nação que o sustentara, desde o momento de sua criação. Uma recente reedição da História da Literatura Brasileira assinada por Carlos Nejar vem colocar em questão esse diagnóstico. O livro, que foi publicado pela Ed. Agir em 2007, ressurge em versão ampliada, agora pela Editora LeYa e a Fundação Biblioteca Nacional, e tem lançamento previsto para o dia 24 de março, às 19h, na Travessa de Ipanema (Av. Visconde de Pirajá 572 – Rio de Janeiro).

O Prosa e Verso do jornal O Globo do dia 12 de março traz uma entrevista com Nejar (íntegra aqui), na qual o autor endossa a discutida tese de que Caminha e Vieira fazem parte, sim, de nossa literatura. Além disso, na entrevista o autor afirma que a obra busca resgatar escritores pré-modernistas como Olavo Bilac, Raimundo Correia, Cruz e Souza e Alphonsus Guimarães para o cânone das letras nacionais, dado que sua associação ao “beletrismo” teria sido produzida artificialmente pelos modernistas. A nova edição tem 1104 páginas e apresenta revisões e acréscimos à primeira (550 páginas), principalmente no que se refere à literatura produzida a partir da segunda metade do século XX. Mas, em um pequeno fragmento da apresentação que antecede a entrevista, lê-se a ressalva de que o novo livro de Nejar “mantém no entanto a matriz entre o romântico e o impressionista do anterior, caracterizada pelo centramento no talento individual e pelo tom de comoção nas análises”. Se confirmado tal julgamento, impossível não se chegar à conclusão de que Sherazade continua a usar velhos artifícios para adiar sua morte. Mas até quando eles funcionarão?

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17 de março de 2011


Cinema: Criticar ou filmar, eis a questão

Por Ana Lígia Leite e Aguiar

Mapeando a formação e o percurso crítico da revista de cinema Contracampo, da qual foi colaborador, Felipe Bragança escreveu no último sábado, dia 12 de março de 2011, o “Meu último texto de cinema”, no caderno Prosa e Verso do Jornal O Globo.  Ao apresentar um panorama instaurado por Fernando Meirelles e Walter Salles, dentre outras tímidas novidades do cinema brasileiro nos primeiros anos do séc. XXI, o cineasta faz um exercício de breve rastreamento das uniões entre a atividade crítica e a produção cinematográfica, mais especificamente entre a formação crítica e universitária de fins dos anos 1990, das quais nasceria um outro tom. Esse tom seria o de uma crítica cinéfila mais antenada com o que há de mais “instigante nas produções internacionais contemporâneas”, para usar as palavras de Letícia Mendes, atrelada a baixos orçamentos e à formação de grupos que conseguiriam trazer novas nuances para a luz do cinema nacional. A essa linguagem renovada e, por ora, sem síntese, Felipe Bragança dedica a reflexão de seu texto e convoca os críticos de 2011 para o despertar de um pensamento sobre esse “outro” cinema brasileiro, nascido de um desejo de novos ares, dentre eles o “esfacelamento da nostalgia da História (do cinema brasileiro)” onde se misturam “clichês, gêneros e estratégias”. O texto de Bragança sintomatiza a rara e, cada vez mais difícil, tarefa de atrelar a produção cinematográfica ao exercício crítico, como assim o fizera a geração do Cinema Novo, da Nouvelle Vague e alguns cineastas do início do séc. XX, tradição abortada pelos novos cineastas dos anos 1980 no Brasil e, como o próprio texto em questão aponta, aos poucos retomada por essa crítica de cinema do entre-lugar, que surge para tentar se libertar tanto de um ranço acadêmico quanto dos vícios de um jornalismo industrial. Ao se despedir com seu “último texto de cinema”, Felipe Bragança só se esqueceu de nos contar o porquê deste “abandono”. Confira o texto aqui.

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17 de março de 2011


Polêmica: Sem açúcar e sem afeto

Por Rachel Lima

4º. capítulo da novela: No último sábado, a resposta de Gümbrecht à tréplica de Andrea Daher , publicado no Prosa e Verso, trouxe novos esforços de conciliação da parte do teórico alemão (leia aqui). Como já disse, não li o livro Produção de presença e não vou entrar em discussões conceituais. No entanto, a questão da amizade mais uma vez retorna ao debate. O ponto por mim destacado da resposta de Daher no último post sobre essa polêmica – a sua perceptível convicção de que crítica e amizade não podem caminhar juntas – é colocado em cena por Gümbrecht, que renega qualquer associação de suas práticas intelectuais com a visão pejorativa que o termo cordialidade assume em nossa cultura. Tentando ser bem humorado (com menos veneno que Daher, mas não sem uma ponta de ironia), ele acaba seu texto convidando a resenhista para um café (ou um drink) para poderem dar sequência à conversa. Mas será que ele, que já tem tantos, ainda precisa de mais amigos? Não seria hora de se perceber que as incompreensões sempre vão acontecer e que o melhor mesmo talvez tivesse sido digerir sozinho o café amargo da primeira crítica de Daher?

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16 de março de 2011


Ser ou nao ser Shakespeare

Por Anne Macedo

Artigo do Segundo Caderno de O Globo, de 13 de março analisa o livro 1599: um ano na vida de William Shakespeare, do crítico e historiador norte-americano James Shapiro, publicado no Brasil pela Editora Planeta e traduzido por Cordelia Magalhães e Marcelo Musa Cavallari. O trabalho é resultado de dez anos de pesquisa do autor, professor na Universidade de Columbia, e se concentra justamente no ano de 1599, que, segundo Shapiro, foi um momento decisivo para a Inglaterra e para Shakespeare: nesse ano, foi construído o Globe Theatre, o dramaturgo escreveu várias peças de destaque em sua carreira e foi fundada a Companhia das Índias Orientais. A matéria traz também para o leitor uma entrevista com o autor do livro e, aproveitando a confluência histórica e biográfica da obra em pauta, amplia os questionamentos propostos a Shapiro, para alcançar a discussão promovida por ele, em seu mais recente livro, acerca das teorias que debatem a autoria das peças do dramaturgo inglês. Leia o artigo aqui.

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16 de março de 2011


As várias facetas de um músico clássico

Por Jamille Assis

O lançamento de vários livros sobre o compositor e músico Franz Liszt foi tema de dois artigos publicados neste último final de semana. Aproveitando o ensejo do bicentenário do nascimento do artista, saiu a primeira matéria sobre ele no Segundo Caderno do jornal O Globo, no dia 11 de março. Graça Magalhães- Rüether -  que assina o artigo -  destaca o recém-lançado “Liszt: Biographie eines Superstars” (“Liszt: biografia de um superstar” de Oliver Hilmes), que traz os conflitos familiares que podem ter colaborado para a restrição da fama do músico somente como compositor. Discordando desta redução, o autor do livro afirma que Liszt inovou a música do século XIX, não vivendo assim à sombra de seu genro e também músico clássico, Richard Wagner, como a família dele queria que todos acreditassem. Leia o artigo aqui.  É nesse caráter multifacetado e inovador que João Marcos Coelho acredita e que é o destaque do segundo artigo noticiado sobre Liszt. No dia 12 de março, o jornal Estadão, na sua sessão Música, traz a opinião do crítico musical que traça uma linha lisztiana que vai do piano à igreja, passando pelas suas experiências como Don Juan e dublê de escritor e crítico. Pelo quadro desenhado pelo artigo, o compositor-pianista romântico, apesar de compor 1400 obras diversificadas, ainda é pouco conhecido. Para sanar tal problema, a matéria noticia que nos últimos meses várias publicações, como a de Oliver Hilmes estão chegando ao público. Os livros, em sua maioria, são de pesquisadores franceses, tendo como objeto temas diversos sobre a vida e obra de Liszt. João Coelho escolheu 4 biografias para dar destaque: “Liszt- Virtuose Subversif”, de Bruno Moysan, que reforça o virtuosismo e a qualidade musical daquele que conquistou a Itália com sua música; discutindo a religiosidade do compositor, “Liszt et L’Espérance du bom Larron”, de Alain Galliari, traz a figura do católico arrependido depois de uma vida devassa; em “La Musique de Liszt et Les Arts Visuels” de  Laurence le Diagnon – Jacquin relaciona a obra musical com as artes plásticas;  e “The Piano Master  Classes of Franz Liszt, 1884-1886: Diary Notes of August Göllerich”, mostra o mestre que, mesmo não tendo nada em troca, ensinava sua arte. Leia o artigo aqui. Para finalizar o artigo, o jornalista numa tentativa de engrandecer ainda mais a obra de Liszt diz: “Todo pianista, nos últimos 180 anos, deve a Liszt a essência de sua arte”.

A performance de Liszt, além de se estender às salas de aula – já que foi mestre de muitos alunos – foi motivo de admiração por apresentar uma interpretação bem pessoal.  Mesmo com um pé no clero e ser adorado pelo papa, seu tom mefistofélico (o compositor fez a Sinfonia “Fausto”) pode ser a explicação para tanto destaque no universo da música clássica.

Um pouco da vida de Franz Liszt: Há 200 anos nascia o húngaro que mudou paradigmas na música clássica do século 19. Um artista, que como todo ser humano, tinha suas contradições como compor música religiosa e ao mesmo tempo se entregar aos prazeres da bebida e dos amores avassaladores. Famoso pelas suas obras feitas para piano, muita de suas produções ainda não foram bem divulgadas. Franz Liszt fez a interligação como ninguém da literatura com a música e, em seus Lieds e poemas sinfônicos, refletiu sobre a importância das artes visuais na compreensão do fazer musical e ainda deslocou a música instrumental dos salões para as salas de concerto. O músico popularizou, assim, um objeto cultural que ainda era muito restrito a poucos e nobres.

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16 de março de 2011


O sequestro do barroco em nova edição

Por Manoela Falcon

O artigo “Um controverso libelo da crítica”, publicado em 12 de março no Jornal O Estado de S. Paulo, traz para o leitor o olhar do crítico Alcides Villaça (Professor de Literatura Brasileira na USP) para o lançamento da nova edição de O Seqüestro do Barroco na Formação da Literatura Brasileira, de Haroldo de Campos. Ao tratar do estudo desenvolvido por Campos em relação ao lugar da poesia de Gregório de Matos e Guerra, o crítico tensiona o estilo e o lugar de fala dos críticos Antonio Candido e Haroldo de Campos: “Não resisto à especulação de que esses estilos refletem os modos pelos quais os autores compreendem o tempo da história e da cultura”. Para Villaça, a perspectiva de uma formação crítica em diálogo com os critérios de vanguarda e com a influência de teóricos como Derrida, Jauss, Jakobson e Octavio Paz possibilita a Campos considerar a obra literária como “invenções abertas no horizonte, interpretáveis à luz de uma ‘poética da sincronicidade”.

Leia o artigo aqui

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16 de março de 2011


Marco Giannotti por ele mesmo

por Anne Macedo

Artigo do Caderno 2 do Estadão de 12 de março noticia o lançamento, no mesmo dia, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, Rua Artur de Azevedo, 401, Pinheiros, São Paulo, de Marco Giannotti, livro assinado pelo próprio artista e que põe em evidência o momento atual da sua carreira. A publicação se refere à sua produção de 2009 até o presente, período marcado pela pesquisa de uma expressão que resulta da interlocução entre fotografia e pintura e que se revela na série de pinturas intitulada Quadrantes. Durante o lançamento, o artista expôs uma seleção de pinturas, desenhos e fotografias que documentam essa etapa da sua carreira. A matéria evidencia o trabalho do artista como inserido no diálogo entre essas duas possibilidades de percepção da imagem, e utiliza, como ponto de partida para a abordagem crítica da fase mais recente da sua produção, a definição dada pelo próprio Giannotti para a sua expressão: “é o olhar pictórico que se transpõe para a linguagem”. Para Camilla Molina, que assina o artigo, se a fotografia assumiu importância nas mais recentes criações do artista, é a pintura o seu campo expressivo fundamental. Leia o artigo aqui.

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13 de março de 2011


Polêmica: Produção de presença

Por Rachel Lima

Andrea Daher apresenta no caderno Prosa e Verso, do jornal O Globo, no sábado passado, sua tréplica à resposta de Hans Ulrich Gumbrecht à resenha de seu último livro. Como não li a obra, não há como discutir com o mínimo de seriedade o teor das críticas presentes no embate entre resenhista e resenhado. Mas, já que os textos publicados até agora tocam em um ponto sobre o qual venho tentando refletir, resolvi, além de fazer a divulgação dessa polêmica, utilizá-la para discorrer brevemente sobre nossas práticas intelectuais.

Pra começo de conversa, quero reafirmar que as polêmicas, cada vez mais raras no campo da literatura, cumprem um papel fundamental de estímulo ao debate de ideias.  No entanto, não deixo de achar estranho, justamente por considerar que o processo de significação é infinito e inevitavelmente imperfeito e parcial (tema que também é tratado nos textos publicados pelos nomes aqui em confronto), que uma resenha seja respondida pelo autor resenhado. Posso estar enganada, mas sempre que isso ocorre parece-me ser reforçada a tendência à produção dos comentários insossos e anódinos das resenhas publicadas nos suplementos literários e culturais, que, na maior parte das vezes, limitam-se a fazer a publicidade da obra, fugindo de um esforço efetivamente crítico.

A resenha de Daher nega esse padrão e talvez seja justamente por conviver com essa característica de nosso sistema intelectual que ela tenha se sentido incomodada com os dispositivos discursivos utilizados por Gumbrecht para produzir o que ela chama de “efeito de teoria” em seu livro. Dentre eles, destaco aqui o dispositivo de “autorização relacional”, inerente a uma “crítica empática”, que congrega tanto os amigos citados quanto os virtuais amigos leitores (especialmente os brasileiros), e que se traduz também na “intuição” explicitada pelo autor de estar a expor uma “fábula geracional”, que autorizaria o tom confessional por ele adotado.

Fico a me perguntar, no entanto, se a condenação das marcas subjetivas do autor em “Produção de presença” por Daher, para além do julgamento da consistência teórica da obra, não acaba por reafirmar o “topos” da inviabilidade da relação entre crítica e amizade e, até mesmo, entre produção teórica e exposição do sujeito. Alguns sinais presentes nos dois textos da resenhista me levam a essa hipótese. Em primeiro lugar, ela afirma em sua resenha que a referência aos amigos no livro de Gumbrecht visaria garantir “o vigor de sua própria presença no Brasil e a fortuna de seus usos críticos empáticos”. Ok, isso até pode ser verdade, mas não se encontra na sua crítica um argumento que fundamente essa sua afirmação. Além disso, em sua tréplica, Daher faz referência à incompatibilidade da posição filosófica de Gilles Deleuze com a lógica da amizade e faz questão de frisar que a utilização das ideias de Michel Serres acerca das noções de sentido/significação independem de uma relação de amizade com o filósofo, a quem conhece e de quem é tradutora.

Considerando-se a defesa que entrevi nos textos de Daher da necessidade de se aferir conceitual e historicamente a validade de uma teoria, será que seria coerente a utilização de aspectos biográficos em sua avaliação?  Nesse sentido, ainda que eu discorde da conveniência da réplica do autor resenhado, considero bastante pertinentes os seus questionamentos ao fato de que a desqualificação de seu estilo acadêmico (que talvez se possa ver como bastante cronístico) e a inferência de que ele seria decorrente do trânsito de Gumbrecht entre a Califórnia e o Brasil não se façam acompanhar da necessária transformação de sua impressão em argumento para avaliar as ideias desenvolvidas no livro.

Bem, não vou transformar o post num ensaio, mas gostaria de ressaltar que eu, particularmente, não considero os usos de dados biográficos em si um mal, muito pelo contrário. Apenas o questiono aqui porque me pareceu que o que Andrea Daher quer atacar é justamente esse nó, no qual a produção de presença vai de par com a construção de uma teoria que não se sustenta em sua argumentação filosófica. Só queria evidenciar que o critério que serve para julgar o texto resenhado deve servir também para avaliar o do resenhista.

Tampouco sou contra o uso retórico dos artifícios da crônica do cotidiano. Menos ainda da associação entre crítica e amizade, assunto que certamente vai ser objeto de outros posts aqui no Observatório. Mas do que não gosto mesmo é da recorrência à ironia. Apesar de essa figura poder ser percebida como estratégica para fazer frente ao marasmo da nossa cena intelectual, penso que ela, sim, tem servido prioritariamente para a “produção de presença”, no sentido pejorativo que Andrea Daher constrói em seu texto. No meu modo de ver, o uso desse recurso é incapaz de fazer avançar o diálogo, aqui entendido como um processo que também pressupõe a distância e a diferença, mesmo quando se está entre amigos. (íntegra da tréplica aqui)

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9 de março de 2011


CRÍTICA DE MÚSICA – Resenha de “Ensaio sobre o Rádio e o Cinema”, de Pierre Schaffer

Por Rachel Lima

João Marcos Coelho assina a resenha do livro “Ensaio sobre o rádio e o cinema: Estética e técnica das artes-relé 1941-1942”, publicada no caderno Sabático do Estadão, de 05 de março. O resenhista destaca a importância do resgate da obra crítica daquele que pode ser considerado “o primeiro DJ de fato da história da música”. Trata-se de Pierre Schaffer, cujas pioneiras experiências com objetos e sons inusitados e um bolachão de 78 rotações deram origem à música concreta, “a primeira grande revolução musical do segundo pós-guerra no século XX”, com ressonâncias que vão do funk carioca à música eletroacústica contemporânea. Carlos Palombini, professor de Música da UFMG, é o responsável por esse resgate, ao promover o restabelecimento do texto de Schaffer a partir de pesquisa realizada com a colaboração de Sophie Brunet e Jacqueline Schaffer, nos arquivos do músico em Paris.  Além da importância do ensaio para o campo da música, ele é também considerado por Coelho como um dos textos fundadores das reflexões sobre a especificidade das linguagens do rádio e do cinema. O livro sai em edição crítica dupla, com publicação em português pela Ed. UFMG e, em francês, pelas Editions Allia. Vale a pena ler, além do livro, a ótima resenha de Coelho (íntegra aqui).

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9 de março de 2011