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III Seminário Internacional Rumos Jornalismo Cultural

Por Túlio D’El-Rey

Aconteceu nos dias 08 a 10 de Dezembro de 2010, o III Seminário Internacional Rumos Jornalismo Cultural, cujo tema foi: pRINCÍPIOS iNCONSTANTES. A presença do Jornalismo Cultural na era digital e nas novas mídias foi o foco principal das discussões, divididas ao longo de 6 mesas durante os 3 dias do evento, com a participação de diversos palestrantes de dentro e de fora da academia, o que propiciou a exposição de diferentes pontos de vista.

Como não poderia deixar de ser, a crítica foi presença cativa no evento, servindo de tema da mesa de abertura, voltada a para discussão a respeito do valor dessa atividade, tendo como debatedores o professor da UFES Fábio Malini, o crítico Luís Antônio Giron, e Stuart Stubbs, editor da revista Britânica de música alternativa Loud and Quiet. A mesa foi mediada pelo professor da UFAL, Gedder Gianotti, que teceu comentários sobre a crítica na era digital, especialmente a que vem ocupando o espaço da Internet, operando uma transformação do labor crítico, o que obriga a uma flexibilização dos seus objetos de análise, já que agora a crítica, mais do que nunca, representaria um lugar de endereçamento do consumo. Daí compreender-se a quantidade de blogs e sites dedicados à análise crítica de objetos culturais que tradicionalmente não são foco da análise crítica da grande imprensa, como quadrinhos, alguns estilos musicais, gêneros cinematográficos e cultura POP em geral.

Envolvido com a crítica na WEB, Fábio Malini procurou mostrar como a reputação da crítica mudou a partir das facilidades promovidas pela WEB 2.0, sobretudo com os blogs, espaço no qual a produção de um usuário passa a servir de mediação para outros usuários. Contribuiriam nesse processo os chamados agregadores de críticas, locais que proporcionam o acesso ao que de modo mais abrangente pode ser chamado de crítica coletiva, promovida através da parceria, decorrente da possibilidade de se agregar diversas opiniões nesses espaços. Desse modo, uma parcela significativa dos espaços críticos se reduziria aos nichos próprios da rede, abalando-se o que o Professor denominou de “era do Pop Star”, gerando sucessos culturais em menor escala.

Crítico cultural de formação jornalística, Luís Antônio Giron privilegiou em sua apresentação a sua experiência em diversos veículos da grande imprensa, com destaque para a revista Época e o jornal Folha de S. Paulo. Para Giron, o tema do evento – princípios inconstantes – está de acordo com a realidade do crítico, tratando de ressaltar que a crítica ainda existe e que ainda é necessária a autoridade da figura tradicional do especialista, sobretudo porque ele compreende esse exercício como serviço e como produção de pensamento. Giron considera também que a crítica como gênero vem sendo transformada pelos blogs, mas lembrou que, no meio de tanta produção, há muito conteúdo irrelevante e que, ainda que se encontre na rede muitas informações, o diálogo é uma raridade, havendo a constante repetição de conteúdos através do compartilhamento nas redes sociais, que criam plataformas de ecos. Giron finalizou sua apresentação defendendo o papel pedagógico da crítica, reforçando a visão da crítica como um espaço dedicado ao compartilhamento de conhecimento e cultura por parte do crítico para com o público.

Stuart Stubbs, da Loud and Quiet, explicou como se tornou crítico musical e por que decidiu começar uma publicação voltada exclusivamente para a música alternativa britânica. Para ele, o melhor da crítica musical está nas revistas independentes, já que o modo de relacionar-se com esse objeto mudou. Ao não se sentir contemplado com o conteúdo das revistas musicais que lia, decidiu produzir seu próprio conteúdo. Stubbs considera que hoje todos podem ser críticos, mas não necessariamente bons críticos, e que a Internet tem sido um espaço muito interessante de difusão da crítica, mas, curiosamente, mesmo assim optou pela produção de uma revista impressa, por acreditar que o público ainda prefere algo físico.

A partir de algumas questões levantadas pelo público e pelo mediador, os participantes da mesa puderam expandir um pouco seus comentários. Indagado a respeito do “achismo” na crítica e da ausência de liberdade no conteúdo produzido pelos grandes veículos midiáticos, Luís Antônio Giron afirmou que os grandes veículos são atrelados a concepções rígidas acerca do que deve pautar o exercício da crítica e que, apesar de haver muita coisa ruim na internet, os blogs fizeram a crítica cultural respirar. Registrou, entretanto, que o tal “achismo” sempre existiu na crítica, e boa parte da produção dos blogs vem como “imitação” da crítica tradicional, que em geral possui mais credibilidade por possuir critérios auto-explicavéis. Como complemento, Fábio Malini afirmou que a internet deve funcionar como espaço de rascunho para o crítico especialista e que os blogs podem assumir a função primordial de contribuir para a formação do crítico. Para Stuart Stubbs, os blogs deixam o leitor acomodado, mas, por outro lado, possuem um conteúdo com mais liberdade. Ao comentar a respeito da ausência de espaço para novos críticos na imprensa, decorrente da falta de discussão, Giron afirma que há uma ausência mais abrangente, que é a do Intelectual Público, uma vez que a universidade rendeu-se à especialização e ao confinamento, havendo hoje a necessidade do compartilhamento da produção universitária, que deve evitar que a linguagem acadêmica afaste boa parte dos leitores. A respeito desse tema, Malini finaliza afirmando que a solução para os novos críticos na Internet seria justamente indicar uns aos outros, no esquema da parceria virtual das redes sociais onde a auto-referenciação dos pares é bastante comum e funciona como instrumento de distinção e reconhecimento, sendo essa a principal diferença nas trocas promovidas pela Rede.

A partir das declarações apresentadas, foi possível constatar que todos os conferencistas consideraram a internet como um caminho bastante fértil para a crítica na contemporaneidade, sobretudo a partir da participação da crítica profissional nos blogs e nas redes sociais, uma vez que o jornalismo impresso vem cada vez mais migrando seus conteúdos para dispositivos moveis como Ipad, Smartphones, etc., migração esta que aparentemente mostra-se como um caminho sem volta.

Observação: Para quem quiser assistir aos debates, basta acessar a página: http://www.youtube.com/itaucultural#g/c/390B461EA6A52418.


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Publicado em 18 de fevereiro de 2011

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